DESCOBERTAS DE PINTURAS MURAIS NO DECURSO DOS
TRABALHOS DE INVENTÁRIO DA DIOCESE DE BRAGANÇA-MIRANDA
Sendim da Ribeira –
Alfândega da Fé
Capela do Divino Senhor
dos Milagres (com dedicação anterior a Nossa Senhora do Rosário)
Monumento religioso incluído no sistema de
informação da DGEMN e considerado como uma construção do século XVIII, ainda
que conjectural. No entanto, pelo menos a parede testeira e parte das
laterais são anteriores ao ano ou do ano de 1593, data dos painéis de
pintura afresco.
O edifício está bastante descaracterizado,
tanto exteriormente como no interior. No entanto, para além dos painéis a
fresco, conserva ainda inalterado o retábulo que os cobre, sendo este do
primeiro quartel do século XIX. Testemunha o prolongamento do estilo rocaille,
mas com soluções/influências neoclássicas visíveis no camarim e coroamento e na
decoração que, embora de inspiração anterior, é muito simplificada.
Os temas dos painéis da principal parede
da capela são marianos, representando a Anunciação, aVisitação,
a Natividade e a Apresentação do Menino Jesus no
Templo (foto.) e, entre estes, a Nossa Senhora do Rosário.
Os da parede lateral do lado da epístola, direito portanto, representam São
Tiago, Maior, como Peregrino (foto.) e, com muitas dúvidas, o Baptismo
de Jesus Cristo, distinguindo-se apenas o anjo que segura as vestes deste.
Os painéis que pudessem ter existido na parede lateral oposta foram destruídos
por desconhecimento e de forma indirecta.
Merece este núcleo a nossa máxima atenção
não tanto pela sua qualidade estética, mas pela correcção do discurso
narrativo, verificando-se também um apego à gravura nos temas representados.
Projecto de conservação e restauro e
revitalização candidatado ao QREN - 2008.
(legenda:
São Tiago, Maior, como Peregrino)
Valverde – Alfândega da
Fé
Igreja de Nossa Senhora
da Encarnação
Edificação bastante alterada por
sucessivas campanhas construtivas tendo em vista a sua expansão e longevidade,
a última das quais ocorrida no início deste século. No entanto, conserva
alçados muito anteriores, sem qualquer intervenção significativa posterior.
Falamos das paredes da capela-mor, sobretudo a testeira, onde verificamos
a existência de pintura mural a fresco em dois níveis sobrepostos (foto.), a
coberto do retábulo dourado e policromo parcialmente barroco. Das poucas formas
e tonalidades que conseguimos perceber com as sondagens, julgamos tratar-se de
um dos mais antigos núcleos deste género na região, de inícios do século XVI,
isto para o primeiro nível de pintura. O segundo nível, mais recente, deverá
fixar-se no século XVI ou XVII. Contudo, apenas com uma intervenção de fundo
podermos melhor fundamentar a datação.
O estado de conservação dos dois níveis é,
no geral, regular, com a superfície pouco truncada pela fixação da
estrutura retabular. Assim, pela datação recuada e também por se encontrar
em boas condições de conservação e com poucas lacunas é fundamental a sua correcta
conservação e animação (projecto candidatado ao QREN - 2008).
(legenda:
Pormenor, Base e fuste da coluna)
Legoinha (Vilar
Chão) – Alfândega da Fé
Ermida de Santo Amaro
(com dedicação anterior a São Domingos)
Edifício religioso com duas etapas
construtivas, a primeira do primeiro quartel do século XVII, correspondendo a
esta a capela-mor, a segunda da primeira metade do século XX, com a erecção da
nave. Esta ermida, até ao século XX, era apenas constituída pela nave com o
altar adossado à paredetesteira, transformando-se a partir de então,
com a ampliação, em capela-mor.
O estado de conservação do edifício, em
geral, é mau. Parte significativa da cobertura da nave desabou, bem como o topo
das paredes onde esta assentava. A nave mantém-se intacta, mas com deficiências
graves na cobertura e topos das paredes, porém sem risco imediato de ruína.
A destruição da ermida, para que fosse
reconstruída, esteve várias vezes agendada, mas por falta de verbas nunca
chegou a concretizar-se.
Em Dezembro de 2007 a equipa de inventário
foi até ao local para confrontar as características do edifício com as das
peças que daí provinham e para proceder ao seu registo, bem como certificar a
inexistência de outras obras de arte e/ou documentação histórica.
O núcleo de pintura mural a fresco
encontrado data do primeiro quartel do século XVII e cobre a totalidade da
parede testeira e 1/5 das paredes laterais. Até ao momento, foi
possível distinguir dois temas de sete, no entanto, a julgar pela dedicação da
ermida, antes e durante o ano de 1758, julgamos conhecer um terceiro tema, são
eles: São Sebastião (foto.), Rainha Santa Isabel,
Santa Face e Verónica (foto.) e São Domingos.
Importa a imediata intervenção de
conservação e restauro das paredes e cobertura, painéis de pintura mural e
revitalização do espaço (projecto candidatado ao QREN - 2008).
(legenda: Santa face ou
Pano de Verónica)
Vilar do Monte – Macedo
de Cavaleiros
Capela de Nossa Senhora
do Rosário
É um pequeno edifício religioso periférico
à actual malha residencial de Vilar do Monte. Como em muitos outros casos, é
apenas constituído pela nave, com um único retábulo adossado à
parede testeira e que cobre o painel, que julgamos único, de
pintura afresco.
A produção do mesmo deverá se situar na
primeira metade do século XVII e deste apenas distinguimos alguns elementos
arquitectónicos, como a base e fuste de colunas (foto.) e o seu entablamento,
não sendo possível verificar se existem representações figurativas na área a
coberto pelo apainelado central do retábulo barroco. No entanto, é
perfeitamente possível a ausência de representações figurativas no painel
pictórico, dado que a imagem em vulto pleno de Nossa Senhora do Rosário, hoje
integrada no retábulo, deverá ser contemporânea da pintura e ter sido
enquadrada por esta.
(Projecto de conservação e restauro,
valorização e animação candidatado ao QREN – 2008)
(legenda: Base de fuste
de coluna)
Castro Roupal (Vinhas)
– Macedo de Cavaleiros
Igreja de São Miguel
(com dedicação anterior a São Mateus (?))
O conhecimento e divulgação deste núcleo
aconteceram em 2004, no âmbito doInventário Histórico-Artístico do
Concelho de Macedo de Cavaleiros, etapa inicial do que acabou por se tornar
no Inventário Histórico-Artístico da Diocese
deBragança-Miranda.
O núcleo em questão é um dos poucos
datados. Inicialmente fixaram-se os painéis na década de 30 de 1500, só
posteriormente, com o contributo do Dr. Joaquim Inácio Caetano na limpeza de
algumas áreas fulcrais do núcleo, se pôde fixar a produção do mesmo no ANO MILL
V TRINTA E TRES (1533 – foto.).
A nível arquitectónico a igreja tem
aspectos muito interessantes, tais como a planta semicircular da capela-mor,
onde se localizam as pinturas, ou os silhares decorados com elipses e
os umbrais com sulcos verticais, contudo o produto final não é homogéneo,
resulta sim de várias intervenções distantes no tempo e no gosto.
Distinguem-se perfeitamente três painéis,
mas julgamos que o número real de painéis é superior, atingindo, no mínimo, a
meia dezena. Sobre a sua temática não existem certezas, algo que apenas se
poderá obter com a conhecimento do conjunto, dado que o tema dos painéis
laterais depende do principal, no entanto julgamos tratar-se da representação
de São Mateus, acompanhado pelos restantes Apóstolos (foto.)
e, num nível superior, por um par de anjos alados afrontados.
A confirmar-se este tema torna este núcleo ainda mais interessante, pois a
representação do mesmo em regime de exclusividade é muito invulgar, para não
dizer original (?), sendo obrigatória uma investigação profunda sobre o passado
económico da localidade.
O estado de conservação dos painéis
suscita cuidados imediatos, pois verifica-se o destacamento de partes
consideráveis do suporte, sendo necessária a sua fixação ao pano em alvenaria
de xisto. Ainda assim, a superfície pintada é muito extensa, sendo superior a
nove (9) m2.
Para além do interesse que a temática
provoca, a qualidade estética dos painéis e dimensões dos mesmos, bem como a
datação recuada e o estilo tardo-gótico que a acompanha, fazem deste
núcleo um dos mais importantes da região (projecto candidatado ao QREN – 2008).
(legenda: Grupo de
Apóstolos)
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