terça-feira, 14 de outubro de 2014

HISTÓRIA

A NOSSA HISTÓRIA EM QUATRO PAREDES
FOTO 1

A Torre do Relógio é sem dúvida o elemento arquitectónico mais imponente da Vila, muito embora não apresente nenhuma traça específica. Isolada do casario antigo, mas situada dentro do espaço das antigas muralhas do castelo mandado construir por D. Dinis, ainda antes da atribuição da carta de foral de 1294, esta construção parece ser o que resta desse castelo que deu nome ao mais antigo bairro da sede do concelho.
Não se sabe ao certo, nem quando, ocorreu o desaparecimento do castelo medieval, nem quando esta construção passou a servir de Torre do Relógio. Mas no início do século XIX já existia o “relojoeiro”, uma pessoa paga pela Câmara Municipal para “dar corda” ao relógio e fazer a sua manutenção.
A foto que se apresenta foi tirada por mim na década de setenta do século passado (esta ampliação foi conseguida a partir da digitalização de um negativo e não da cópia em papel) quando a Torre do Relógio apresentava evidentes indícios de degradação, nomeadamente ao nível do reboco e da pintura de cal. Anos mais tarde sofreria uma pequena intervenção que lhe deu o aspecto actual, com a pedra à vista. O mais certo é que se a origem da actual Torre do Relógio está ligada ao castelo medieval a construção inicial não tivesse qualquer reboco. Essa variante pode ter sido apenas introduzida nas obras de recuperação que se efectuaram em 1884.
Como curiosidade, repare-se também no edifício que se encontra atrás da torre (hoje já está transformado) e que parece ter servido de Casa do Povo durante muito tempo.

 A LENTA EVOLUÇÃO DA URBANIDADE
FOTOS 2,3,4 e 5

Estas quatro fotos foram tiradas em épocas bem distintas (a primeira aí por volta dos anos trinta, inícios de quarenta e a última já no início da década de noventa do século passado) mas todas elas a partir de locais muito próximos, concretamente da Quinta Nova.
Um olhar mais atento para este conjunto permite identificar a Torre do Relógio ainda com o reboco e a pintura de cal e finalmente sem esses elementos. Mais cá para o “fundo da vila”, a grande transformação verifica-se na construção do espaço cultural que o Dr. Manuel Faria iniciou e que mais tarde veio a dar origem ao Quartel dos Bombeiros Voluntários. Note-se que na primeira foto essa obra ainda não se tinha iniciado e a zona envolvente da Capela de S. Sebastião estava completamente em terra batida. A única casa que ali se observa é a que ficou conhecida como “Casa do Castro”, que ainda hoje existe, da parte de cima do actual Centro Cultural. O Jardim Municipal já se tinha iniciado e o edifício da então Câmara Municipal já tinha sido alterado, pois observa-se a varanda que ainda hoje possui. De resto, é visível o antigo muro ao fundo do jardim e até o coreto.

A segunda foto mostra já o início da tal construção iniciada pelo Dr. Manuel Faria. Na praça ainda não se vê a “farmácia de baixo”, mas no jardim aparece com alguma imponência o olmo que já vimos secar na nossa geração.

A terceira foto mostra o Quartel dos Bombeiros quase concluído, já aparece a casa da Junta Autónoma e também o edifício da farmácia referida e ainda um pormenor curioso que nos passou despercebido durante muito tempo: junto à casa do “Sr. Mário Almeida” está levantado um enorme mastro com uma bandeira, sinal de que alguém havia terminado um curso superior, ou casado.

A quarta e última foto deste grupo foi tirada por mim no início dos anos noventa e já mostra as actuais instalações da Caixa Geral de Depósitos. Lá no alto da Vila a Torre do Relógio tinha, entretanto, sofrido obras e a antiga casa do povo, ao lado, transformada em casa de habitação. O antigo Quartel dos Bombeiros aparece agora bem visível, como um dos carros antigos à porta, assim como a casa da Junta Autónoma.

MUDANÇAS PREVISÍVEIS
FOTOS 6 e 7
De novo a Praça do Município. As duas fotos que se apresentam são um bom exemplo das transformações urbanas desta zona da Vila. Comparando estas fotos, a primeira talvez tirada nos anos trinta do século passado e a segunda nos anos sessenta, observam-se dois pormenores curiosos que importa referir.

O primeiro desses pormenores é que o edifício do Tribunal ainda conserva a estrutura do século XIX. É bem possível que nesta época ainda não funcionassem aqui os Paços do Concelho. Existe um postal de 1923 que mostra quase toda a fachada deste antigo edifício, mas nesta foto que apresentamos dá para perceber que tinha apenas uma porta e seis janelas, ou seja, ainda não tinha sido acrescentado, como se observa na foto seguinte e que corresponde ao edifício actual.

O segundo pormenor tem a ver com uma casa que desapareceu na Praça e que existia entre as casas do“Sr. Martins” e “Sr. Mário Almeida”.
Mas estas fotos descrevem-nos ainda outros aspectos importantes sobre a evolução da Praça do Município e da própria Vila: parte da cadeia antiga (que também foi quartel da GNR) ainda aparece na primeira foto (primeira construção do lado esquerdo); a iluminação pública no tempo da primeira foto ainda era a gás (repare-se no candeeiro mais alto que está em plena praça) e mais abaixo vê-se um dos marcos de água para abastecimento ao público, obra que só se concretizou no início da década de trinta; a segunda foto, por exemplo, mostra já os candeeiros de iluminação eléctrica, pois nesta altura (anos sessenta) já estava em funcionamento a central eléctrica do Prado.
Pelo menos a segunda foto foi facultada pela Dª Maria do Carmo Trigo. Trata-se de um postal de boas festas, no qual a fotografia tem apenas as dimensões de 7,5cms X 5cms.

O QUE JÁ NÃO EXISTE
FOTOS 8 e 9
Estas duas fotos mostram a “Cadeia” antiga e a “Casa dos Távoras”.

O edifício da “Cadeia” antiga, assim ficou conhecido (primeira foto) foi construído na segunda metade do século XIX e já não existe na actualidade. A história deste edifício, que na realidade se destinava a alojar a Administração do Concelho e a cadeia mas após a implantação da República serviu também para posto da GNR, está por contar, tanto nos pormenores da sua construção, pois a planta que existe no arquivo histórico da Câmara Municipal não coincide com a construção desta e de outras fotos conhecidas, como nas razões da sua demolição.
A segunda foto mostra a“Casa dos Távoras” há umas décadas atrás. O edifício ainda existe (rua 13 de Janeiro) mas está muito alterado. No final dos anos vinte do século passado o projecto para a rede de distribuição de água na Vila mostrava que todo aquele quarteirão tinha apenas este edifício e é hoje dado como certo que o actual campanário da Capela de S. Sebastião veio da capela particular deste edifício, assim como o portal da entrada corresponde ao que agora se encontra na casa do “Capitão Mendonça” (na avenida Francisco António Pereira de Lemos).

A foto da “Casa dos Távoras” foi facultada pela Dª Maria Cecília Amaral, cuja família ali viveu durante muitos anos.

O PRADO DA VILA
FOTO 10
Esta é seguramente uma das fotos antigas que melhor ajuda a avivar a memória sobre o que era o PRADO da Vila de que muitas pessoas mais idosas ainda se lembram, embora não sejam visíveis alguns dos pormenores mais interessantes deste espaço que durante décadas, mesmo séculos (pois já aparece referenciado no Tombo dos Bens do Concelho do século XVIII como património público) constituiu simultaneamente um espaço de lazer e de trabalho. Aqui existiam uns tanques públicos onde a maior parte da população lavava a roupa, pelo menos um tanque de água para os animais e ainda uma ou duas fontes de água para consumo. A foto mostra exactamente a azáfama característica do Prado, ou seja, umas pessoas a lavar a roupa e outras a recolher água nos cântaros que eram transportados por animais de carga. Do lado esquerdo da foto nota-se igualmente uma pequena parte da Central Eléctrica que alimentava a iluminação pública e privada (pouca casas a possuíam…) da Vila.

No entanto, é relevante referir-se que esta não é a foto mais antiga que se conhece do Prado. Numa colecção de postais de Agosto de 1923 (da autoria do fotógrafo José Joaquim do Rego) aparece uma foto do Prado com algumas diferenças substanciais, o que significa que este espaço não teve sempre a mesma configuração. Suponho que poderemos falar de um Prado anterior à década de trinta e de outro posterior, pois foi nesta altura que se construiu a Central Elevatória e Central Eléctrica e se deu início à transformação do espaço que, todavia, depois se manteve quase inalterável até à década de sessenta.
Esta foto foi facultada pela Dª Maria Cecília Amaral.

NOVIDADES NO BURGO
FOTOS 11 e 12
Seleccionaram-se estas duas fotos por se tratar de duas curiosidades raras. A primeira mostra aquilo que pode ter sido o primeiro grupo de ciclistas composto por gente da Vila. Eu não vou desvendar quem eram estes atletas, mas seguramente muitos reconhecerão uma das pessoas que se encontram viradas para a câmara que tirou a fotografia!

A segunda foto complementa a primeira, mas agora num tempo bem diferente, na década de oitenta e com atletas profissionais (suponho que se tratava do Grande Prémio JN). Entretanto, esta foto mostra bem o antigo Quartel dos Bombeiros Voluntários.
A primeira foto foi facultada pelo Sr. João Albuquerque e é também uma curiosidade referir que a ampliação que agora se apresenta foi obtida a partir da digitalização de um original em papel com as dimensões de 4cmsX4cms!

TEMPOS DE GLÓRIA E ENTREGA
FOTOS 13 e 14
A construção do troço da Estrada Nacional 315 de Alfândega da Fé a Sambade, na década de sessenta, foi o princípio do fim do Prado e o espaço acabou por dar origem a um campo de futebol, por onde passaram algumas das glórias locais. Mais tarde foram ali construídos os alicerces de um edifício que se dizia destinar-se ao Colégio particular que existia na localidade e após o 25 de Abril de 74 serviu para implantar um bairro de casas pré-fabricadas e um polidesportivo. Tentar descobrir quem eram estes nossos atletas do futebol é um exercício que deixo para cada visitante.

Eu prefiro destacar outros pormenores. Assim, com um pouco de esforço, na primeira foto pode ver-se uma meda de cereal (atrás do carro) pois na zona existia uma eira empedrada, que servia sobretudo para malhar o centeio de forma tradicional. A segunda foto, tirada mais em direcção a nordeste, mostra os campos em que mais tarde cresceria o actual Bairro de Valtelheiro.
Estas fotos foram facultadas pelo Sr. João Albuquerque.

DESDE O SÉCULO XVI
FOTO 15
A actual Capela de S. Sebastião data de inícios do século XVI e foi construída como ermida, pois estava completamente fora da zona urbana. Existe um postal de 1923 em que o edifício ainda aparece com o muro que tinha em toda a volta e um pequeno portão de acesso ao edifício.

Na época desta fotografia, talvez já no final da década de trinta, ou princípios da de quarenta (a obra do antigo Quartel dos Bombeiros ainda não se tinha iniciado) já aparecem outras construções que deram a configuração ao actual Largo de S. Sebastião. O dia era de neve, como facilmente se observa e as árvores despidas de folha dizem claramente a época do ano em que esta imagem foi obtida.
Esta foto foi facultada pelo Sr. Comandante Jeremias Ferreira.

MUDANÇAS MAIS RECENTES
FOTOS 16 e 17
Estas duas fotos não são muito antigas, mas ambas recordam aspectos importantes da urbanidade da Vila.

No primeiro caso, a época deve ter sido anos sessenta, pois o que a foto documenta é a construção das primeiras bombas de combustíveis de Alfândega da Fé. O local é fácil de identificar, quer pelo torreão da “Casa Grande”, onde hoje funciona a Câmara Municipal, quer pelo edifício da antiga “Empresa Alfandeguense” (em tempos mais recuados foi o Lagar D’El Rei) quer ainda pelo edifício do Celeiro, que se vê atrás da estrutura de betão que é o motivo principal desta foto.
Embora não recorde quem me facultou a primeira foto, a segunda já foi tirada por mim, em finais dos anos oitenta do século passado e serviu para documentar um artigo publicado no jornal Terra Quente. O casario desta avenida é praticamente o mesmo da actualidade, a grande diferença está na avenida que entretanto foi construída, já na década de noventa.



REGISTOS DE PESSOAS E FACTOS
FOTOS 18, 19 e 20
É evidente que estas três fotos não têm nenhuma relação directa entre si, a não ser testemunharem factos e património e recordarem pessoas de outros tempos.

Achei curiosa esta parada da Legião Portuguesa, na primeira foto, muito provavelmente em dia de festa de S. Sebastião, a avaliar pelos mastros que se vêem em segundo plano. Existe uma outra foto, certamente tirada no mesmo momento, em que se vê uma banda de música ao lado desta parada e daí também a referência à festa. Não é novidade a existência desta milícia em Alfândega da Fé, pois existem outros documentos que o comprovam, mas parece-me gente a mais para ser só da Vila, ou mesmo do concelho.
A segunda foto foi tirada em 1952, sendo a única que tem o registo da data exacta. Embora as figuras que retrata tenham sido importantes, nomeadamente o Dr. Mário Miranda (terceiro a contar da direita) o que me despertou a atenção foi o local. Foi tirada junto ao Santuário de Nossa Senhora das Neves (Covelas – Sambade) e isso pode confirmar-se através da casa branca que está em segundo plano, no monte, cujas ruínas ainda hoje existem. Graças a estas referências é possível fotografar aquele espaço a partir do mesmo ângulo e ver as enormes diferenças que sofreu nestas quase seis décadas. A foto original é também de reduzidas dimensões; 5,3cmsX5,3cms.

Finalmente, a última foto, um registo notável de uma das primeiras (se não mesmo a primeira)“carreiras” de passageiros do concelho, pertencente à Auto Viação Alfandeguense. Durante algum tempo estive convencido de que esta foto tinha sido tirada em Alfândega da Fé, junto à escola primária “de baixo”, na rua da Carreira da Bola. Mas uma observação mais atenta revelou que isso não era possível pois a escola de que falo não está (nem nunca esteve) ao nível da rua e olhando para a zona direita desta foto percebemos que o que se vê é um olival, o que não seria possível naquela zona da Vila. Como no concelho só existe outra escola com esta tipologia, deduzo que foi nessa localidade que a foto foi tirada, ou seja, em Vilarelhos. 

A primeira foto foi facultada pelo Sr. Comandante Jeremias Ferreira e deve ser da década de quarenta; a segunda (suponho que também a terceira) pela Dª Maria do Carmo Trigo.
F. Lopes, 07 de Agosto de 2009

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