segunda-feira, 13 de outubro de 2014

BOMBEIROS



6-A construção do Quartel dos Bombeiros


O antigo Quartel dos Bombeiros Voluntários


O Dr. Faria fez da construção de um edifício com condições para as actividades culturais um dos objectivos de toda a sua actividade. Mas as dificuldades financeiras para concretizar aquela ideia acabaram por ditar que se lhe juntasse a do Quartel dos Bombeiros Voluntários, que já então existiam, mas praticamente não tinham um local onde guardar os parcos equipamentos que possuiam. O dinheiro não veio apenas através da organização de contradanças ou cortejos. As receitas dos teatros, nomeadamente de “As Pupilas do Sr. Reitor”, reverteram para este fim, como recorda Manuel Cordeiro: “Não havia cá bombeiros na altura, isto foi para a construção dos bombeiros, foi para o que a gente trabalhou e fizemos as Pupilas do Sr. Reitor, depois fomos a Mirandela e a Vila Flor dar o espectáculo (…)”

Esta foto já é pelo menos dos anos 50, mas mostra o tipo de equipamentos os Bombeiros tinham.

Manuel Cordeiro, que também ele viria a ser Comandante dos Bombeiros Voluntários, sucedendo a Jeremias Ferreira, referindo-se à situação daquele tempo acrescenta ainda que“(…)isto praticamente era uma vila muito pequena e aqui tudo o que se fazia na altura quase era ligado à parte dos bombeiros, porque ajudando os bombeiros ajudava-se Alfandega. Realmente a juventude quase se juntava toda nos bombeiros, toda a gente procurava auxiliar os bombeiros, foi nessa altura que se começaram a construir os bombeiros e todo o edifício foi feito por gente de Alfandega e começou precisamente com as iniciativas do Dr. Faria.”
Tentemos esclarecer um pouco esta parte da história dos Bombeiros Voluntários. A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alfândega da Fé havia sido fundada na década de 20. Durante muitos anos não existiu verdadeiramente um quartel, e este movimento conheceu várias instalações, todas elas muito pequenas e sem condições, como explica Armando Almeida: “Era na rua de cima, [hoje rua Francisco Maria Cordeiro] ao pé do Rego. (…) foi o Carolino Urze que fundou, foi o primeiro Comandante, depois vieram aqui para baixo para onde era a tasca da Chiquinha que é hoje da Dona Alice, [hoje rua S. João] aquilo até era muito pequeno, não tinha qualquer tipo de condições e então ele [Dr. Faria] sonhou fazer-lhes os bombeiros, arranjaram o lugar, a Câmara disponibilizou o lugar mas dinheiros não havia (…)”.
No entanto, a construção do novo quartel dos Bombeiros Voluntários não foi tarefa fácil, até porque o Dr. Faria, para além de pretender melhorar as condições da corporação, tinha um outro objectivo, talvez até mais importante e a verdadeira razão desta obra, como destaca Horácio Pires, que acompanhou muito de perto todo este processo.
Uma das coisas que ele pretendia era arranjar uma casa de espectáculos, que nós não tínhamos, então ele conseguiu que uma boa parte das oferendas fosse para a construção desse edifício que era para a casa dos espectáculos (…)”

O início da construção do edifício, numa foto bastante danificada.

Na verdade, uma das razões que explicam a dificuldade da concretização desta obra prende-se com o facto de ela incluir um enorme salão de espectáculos, com um palco de dimensões apreciáveis para a época (tinha até espaço para o ponto, compartimentos anexos que serviam de camarins e já com instalações sanitárias). O salão dos Bombeiros, como era conhecido, tinha ainda espaço para bilheteiras, sanitários para os espectadores e até um balcão. Chegaram a realizar-se ali espectáculos com meio milhar de pessoas a assistir!
Os custos da obra não permitiram a sua conclusão tão cedo quanto o Dr. Faria pretendia, como refere ainda Horácio Pires: “(…) conseguiu apenas fazer os alicerces, um bocado de parede de um dos lados, três ou quatro metros mais ou menos, depois teve que abandonar porque faltou a receita. Ficou assim abandonado até que a Câmara o concedeu para os bombeiros e fiquei com o encargo de conseguir completar a obra, com muitas dificuldades, mas conseguimos de facto. Continuámos a casa, fechamos o telhado e as portas e ficou mais ou menos a poder utilizar-se, não ficou completamente perfeita mas por fim conseguiu acabar-se, embora na fase final já não tenha sido eu”.
Apesar de as entrevistas não serem muito explícitas sobre o assunto, vale a pena prestar especial atenção a esta última citação, na qual se sugere que a obra terá começado apenas com objectivos culturais e só depois a Câmara a terá entregue aos Bombeiros, tendo sido concluída já com as duas finalidades, casa de espectáculos e quartel dos Bombeiros. Esta questão fica reforçada se atentarmos no facto de que o terreno foi cedido pela Câmara Municipal e nunca foi posto em nome da Associação dos Bombeiros, o mesmo acontecendo com o edifício, de tal forma que há poucos anos, quando foi demolido para ali se construir a actual Casa da Cultura, a propriedade continuava a ser da Câmara Municipal.

O antigo salão dos Bombeiros, nos anos 90


ALFÂNDEGA DA FÉ - RESISTIR NO NORDESTE
site de Francisco José Lopes




Independentemente destes pormenores, o certo é que a construção daquele edifício foi ideia do Dr. Faria, que não se limitou a contribuir com as suas iniciativas culturais, mas acabou por se transformar em obra do povo, ou seja, feita com um pouco de esforço e sacrifício de quase todas as famílias da Vila e até de outras freguesias do concelho.

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