sábado, 11 de outubro de 2014

Sandra Martins

HISTÓRIAS DE VIDA
 Nascida para servir
29/10/2013 22:57:07
Sandra Martins é uma mulher de armas, uma das muitas que integram por mérito as tropas de elite que servem os quartéis dos bombeiros voluntários do nosso País.
 Dona de uma vida dura, esta bombeira de 2.ª encontrou nos Voluntários de Alfandega da Fé não só um rumo, mas também uma vocação.
 A única motorista - no feminino - do distrito de Bragança é, pois, o exemplo de entrega e abnegação que caracteriza os “soldados do bem” Sofia Ribeiro (texto) Marques Valentim (fotos)
Empregos precários levaram Sandra Martins à Associação Humanitária do Alfandega da Fé que a contratou “para as limpezas”, conforme conta a protagonista de uma história de afetos, que começou a ser contada há uma década. Sandra Martins já tinha 27 anos quando descobriu a sua vocação, “dois ou três dias depois de ter entrado pela primeira no quartel”, quando largou a vassoura para acompanhar uns doentes à sessão de fisioterapia. Esse acaso mudou-lhe a vida, percebeu que “queria andar nas ambulâncias, ajudar as pessoas, tratar delas”. A entrega e a garra desta mulher eram tão evidentes que direção e comando não hesitaram em integrá-la no corpo de bombeiros, dando-lhe a hipótese de obter a formação necessária, uma oportunidade que agarrou com as duas mãos, tanto que desde então nunca mais parou, sendo mesmo a única mulher do distrito habilitada para conduzir veículos de emergência.
 Depois de cumprir 10 anos de serviço e ao serviço dos bombeiros, Sandra é perentória: - Gosto mesmo disto! Divertida, genuína fala com desembaraço, sem escolher as palavras sem filtrar emoções, debitando episódios da sua vida que nem sempre foi fácil. Mas Sandra soube trocar as voltas ao “destino”, sendo hoje uma mulher realizada e, sobretudo, como gosta de sublinhar, “estimada por todos”. Fala com carinho dos “seus” doentes. “Eles sentem-se bem comigo, desabafamos muito uns com os outros”, conta, para depois revelar preocupação com a conjuntura do País que dita os tais cortes nas despesas do Estado que afetam, sobretudo, os mais carenciados.
“São muitos os idosos que já não podem ir aos tratamentos, pessoas pobres que mal têm para comer… coitadinhos… Custa-me tanto”, diz-nos. “Sabem… Eu vivo isto, gosto mesmo de trabalhar aqui”, diz-nos como que justiçando a evidente revolta que deixa, por minutos, transparecer. Prossegue falando de um dia-a-dia marcado pelo transporte de doentes, por muitos quilómetros percorridos, pelas viagens sem conta a Mirandela, a Bragança, ao Porto e a Coimbra. Apesar de ser notória a paixão com que vive esta (quase) rotina, sublinha que, para além serviços de saúde, também se “sente motivada e preparada” nos incêndios, que aliás este ano não deram tréguas aos bombeiros, roubaram meios e vestiram de negro a região de Alfandega da Fé.
 Das muitas missões cumpridas ao serviço do corpo de bombeiros, Sandra Martins recorda, um acidente de mota que colocou em risco de vida “um miúdo de apenas 15 anos” “A serra de Bornes estava a arder e a GNR não me queria deixar passar, mas eu estava decidida. Preferia arriscar tudo do que sentir que nada tinha feito para salvar aquela vida. Eram duas da manhã… eu chorava com a mãe que acompanhava o rapaz na viatura… mas cumpri a minha missão.” Nem todas as histórias têm finais felizes, mas a bombeira não desanima, pois “há que seguir em frente, muito embora, muitas vezes, seja tão difícil” até porque em “meios pequenos todos se conhecem, acabamos por sofrer com as pessoas”.
Não teve um percurso fácil. Foi mãe com apenas 16 anos e tudo fez pelo filho que também fez bombeiro, nada mais que orgulhe esta operacional afoita que serve de exemplo aos camaradas, num contingente onde as mulheres ainda se contam pelos dedos de uma só mão, nada que a inferiorize, pelo contrário, contribui, antes, para a sua valorização, pois todos os dias quer ser melhor.
http://bombeirosdeportugal.pt/reportagem/nascida-para-servir=102

Sem comentários: